• RS-SM-07 – Abrigo da Pedra Grande

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Pedra Grande, um abrigo, um tekoá, um espaço sagrado, um sítio arqueológico e agora um sítio digital


Pedra Grande, assim é conhecida a monumental rocha de arenito Botucatu localizada no interior do município de São Pedro do Sul/RS. A beleza e as particularidades do abrigo rochoso chamam atenção na paisagem entrecortada por áreas planas, morros e colinas suaves. E não é de hoje que olhares humanos encontram paragem no local, a Pedra Grande é um sítio ocupado há milênios.


Na face nordeste do bloco, voltada para a atual estrada, encontra-se o maior painel de arte rupestre do estado do Rio Grande do Sul. As gravuras esculpidas na rocha, também chamadas de petróglifos, estendem-se por um comprimento linear de 24 metros. Na linguagem das pesquisas em arte rupestre, as gravuras pertencem ao estilo pisadas, remetendo as típicas pegadas de ave que caracterizam os desenhos do painel.


Escavações arqueológicas realizadas no local indicam ao menos quatro períodos marcados de ocupação histórica, o primeiro a aproximadamente de 3 mil anos atrás por grupos caçadores-coletores. O segundo, por volta de 800 anos atrás, também por grupos caçadores. Estes grupos humanos pioneiros teriam sido os autores das emblemáticas gravuras ainda marcadas na rocha.


Em período mais recente, 650 anos atrás, populações agricultoras da etnia Guarani vão se fixar no local conformando aí suas aldeias, seu tekoá , cujas marcas mais características são os remanescentes de sua sofisticada cerâmica utilitária. Não há evidencias arqueológicas de que os Guarani tenham gravado no painel, remetendo este aos grupos anteriores na ocupação.


E, como se tal encadeamento histórico já não fosse surpreendente, a Pedra Grande foi palco também de uma Redução Jesuítica-Guarani da primeira fase. Na parte detrás do grande monólito de arenito foram identificados vestígios da Redução de São José do Itaquatiá (1633-1637), onde viveram cerca de 600 famílias Guarani junto à padres jesuítas. Segundo dados reunidos nas cartas jesuíticas que compõe o manuscrito De Angelis, havia no local uma igreja, um aposento para morada dos padres, curral para criação de vacas e lavouras. A redução, como as demais da chamada primeira fase missioneira, foi abandonada devido aos confrontos com bandeirantes paulistas.


No transcorrer do tempo o local foi sendo redescoberto pelo olhar dos atentos cientistas de São Pedro do Sul, com destaque para Vicentino Prestes de Almeida que fotografou o painel e fez a informação chegar na mão de pesquisadores e entusiastas da arqueologia regional ainda nos anos 1930.


De lá para cá, importantes pesquisadores e instituições universitárias do Estado estiveram pesquisando no local, com destaque para as escavações de José Proenza Brochado e Pedro Ignácio Schmitz em 1972, no contexto do PRONAPA e enquanto professores da UFRGS; as escavações da PUCRS, em 1997, coordenadas por Klaus Hilbert e equipe; pesquisas da UFSM feitas pelo professor Victor Hugo da Silva e as escavações do arqueólogo Saul Milder e equipe em 2001. Trabalhos acadêmicos relevantes, como a dissertação de Silvana Zuse, também abordaram o local.

Em face do recente programa de qualificação do sítio arqueológico RS-SM-07: Abrigo da Pedra Grande, onde deve ser alocada estrutura para melhor recepção de visitantes, idealizou-se a construção deste website, cujo objetivo é reunir a documentação produzida sobre o sítio ao longo dos anos.


Embora levar um sítio físico para um sítio digital não seja possível, espera-se que a documentação reunida aqui possa aproximar os visitantes virtuais da Pedra Grande, um lugar de múltiplos significados e milenar encantamento.

Juliana Soares